Os Portugueses em França ( novo êxodo , 45 anos depois )...

Aqui de França, um dia de sol enchanté ... Saí de manhã e sentei-me na esplanada cá do bairro. Coisa não muito frequente. O Senhor Anselmo , emigrante português , já todo Francês mas ainda com Canto Luso, ( farto bigode),dono do espaço, mal me viu devidamente aconchegado pelo Sol calmo,sem vento, sem brisa sequer, ,abordou-me e todo peremptório como o habitual disse: -Então? Cafezinho? -Não, não.Com este tempo , igual ao da sua Terra Natal,hoje cheguei aqui em jejum.Já viu? Então? Hoje , lá como cá , é só sol. Hoje estamos iguais.Que rico solinho...Quero deliciar-me .Vim com tempo. Hoje, antes do café, queria ver o vosso cardápio, faz favor.Que aconselha? -Fique sabendo que se o meu negócio vivesse deste dia ,na minha Terra,hoje, esta aprazível esplanada , daqui a nada, abriria processo de insolvência . ... Mas que enigmático me saiu às vezes este Senhor Anselmo. Não percebi o que queria dizer.Mas quantas vezes não o entendo. A Língua e as suas especificidades. Paguei a conta que hoje me pareceu mais em conta, tendo em conta que cá fora com todo este sol e azul,paguei o mesmo que quando-tenho-que-estar-lá-dentro, abrigado do Inverno , resguardado do agreste e parti. Começou bem o dia. E logo hoje , de folga. Decidi ir passear para o Parque da Cidade. À beira-rio , o bucólico foi interrompido por uma excursão com várias camionetas de portugueses .Vieram piquenicar.Depois de tanto distúrbio quis saber o que faziam eles aqui? -Disseram-me que na sua Terra já não se piquenicava há meses. Percebi que eram portugueses bem informados das previsões meteorológicas,abastados para virem tão longe piquenicar. Agora , começava a entender o sr Anselmo. Claro que procurei de seguida outro lugar para usufruir deste belo dia de sol. Mas a coisa não estava fácil. Os melhores sítios da cidade estavam inundados de Portugueses sedentos do céu azul ou a estrelar , e da Estrela-Mãe, o Sol. Desisti. Recolhi-me . À espera que faça bom tempo , também aí.