Morreu papagaio

Tenho umas galinhas no quintal, às quais, de quando em vez, cometo a atrocidade de encurtar o número do bando, à base de facada no pescoço. Sim, eu sei que é um gesto horrível, desumano e sanguinário, no entanto interrogo os nossos leitores mais sensiveis, quiçá, pertencentes a alguma liga de protecção de animais, de qual o modo mais “humano” de tirar a vida a um pobre animal. Ou mesmo, como serão mortos os frangos que compramos no talho e que não vimos como cresceram nem como morreram até chegarem ao nosso prato – seria para mim uma grande ajuda, pois acreditem, de cada vez que me proponho a repetir o gesto, fico possuido de uma tal angústia que chego a ter pesadelos com pescoços de galinha cortados. Como senão bastante, das minhas preocupações galináceas, aparece o H5N1, matador-mor de ave caseira, futuro enfezador pandémico da raça humana. Sua Exelência, o ministro da agricultura proclama o registo obrigatório de todas as aves de capoeira para, caso seja registado algum foco, possa imediatamente ser abatido todo o efectivo avicola, numa área de 3Km. Volto a interrogar-me e aos nossos leitores, de qual o processo “humano” que utilizarão para estes abatimentos em massa, é que eu quero mesmo saber qual é o melhor processo de matar uma galinha e aproveitar-lhe o sangue para uma arrozada de cabidela. Porque entretanto, pus-me a pensar, e para não estar com trabalheiras de registos de galinhas, deslocações ao Ministério da Agricultura e outras burucracias vou eu próprio fazer a chacina, no quintal, à facada, e fico mais descansado com o contágio do maldito vírus. Descansado, não! Que ao meu vizinho já lhe morreu o papagaio.